domingo, 3 de março de 2013

O "prumodiquê?" deste blog


Recentemente iniciei minhas peregrinações para cursar um mestrado, distante 1.137 km de minha morada. Como estes deslocamentos se dão por transporte rodoviário, tenho dezoito horas em frente a uma janela, que descortina a verdadeira paisagem do sertão nordestino e abre as portas de meu imaginário para reflexões, lembranças e projetos (quando não estou mergulhado em algum livro, que também me descortina paisagens...).

E, como o grande Luiz Gonzaga já cantava:
"Mas o pobre vê nas estrada
O orvaio beijando as flô
Vê de perto o galo campina
Que quando canta muda de cor
Vai moiando os pés no riacho
Que água fresca, nosso Senhor
Vai oiando coisa a grané",
trago-lhes aqui algumas dessas viagens transformadas em idéias despretensiosas, apenas como um exercício de escrita e registro de minhas elucubrações, "oiando coisa a grané"!

Vem viajar comigo!




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O paradoxo da modernidade


Depois que o dia amanheceu, não consegui continuar dormindo. Abri as cortinas e fiquei admirando a paisagem que passava em minha janela.

Casinhas bucólicas e simples em campos secos (provavelmente cheios de pastagens quando a chuva assim o permite), cabras e cabritos espalhados, um poço (talvez seco), uma cerca velha e sinuosa. Pequenas veredas que torteiam pelo mato ralo, conectando as pessoas, ligando casas e localidades. 

Um pouco mais à frente, já chegando à metrópole, casas/barracos à beira de barrancos, sem as comodidades de energia elétrica, água encanada, sistema de esgoto e coisas do gênero.

Fiquei a pensar. Estava chegando a um centro de excelência em tecnologia, laboratórios digitais dos mais modernos, os grandes nomes da ciência da computação no Brasil, enfim, à vanguarda do “conhecimento tecnológico”. E pelo caminho, a miséria e a pobreza que podemos encontrar em qualquer parte deste nosso país...

Quando era criança, assistia a filmes futuristas em que os automóveis eram guiados por computadores, os homens usavam a ponta dos dedos para executar tarefas antes impossíveis e as cidades eram extremamente evoluídas.

Hoje, temos automóveis guiados por computadores que até cegos pilotam e usamos a ponta dos dedos para executar tarefas inimagináveis. Entretanto, as cidades não estão extremamente evoluídas... Não conseguimos (ou queremos) levar o progresso e a tecnologia a todas as pessoas nos mais distantes rincões de nossa “pátria amada, idolatrada, salve salve!” Fome, miséria, desemprego, violência, ignorância e tantos outros males vagam soltos pelos campos e pelas cidades. Qual o meu papel em tudo isso? O que fazer para que aquelas pessoas tenham acesso ao conhecimento que a internet nos proporciona? Como trazê-los até as infinitas possibilidades que o progresso tecnológico nos disponibiliza?

Desci do ônibus com um gosto amargo na boca e na alma...

2 comentários:

  1. Não há modernização que não abrace à ganância e à injustiça. Como dizia minha mãe: "Beba toda água do seu copo, ela está ai por que está faltando no copo de alguém."

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  2. O homem evoluiu muito em tecnologia mas espiritualmente está regredindo. Os senhores do senado tem até tablets, enquanto o povo no sertão só anseia por água.

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